quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sede de antiga colônia nazista será demolida em SP




TAMANHO DA LETRA A+ A-
Foto: Divulgação
Prédios de tijolos com suástica darão lugar à plantação de cana-de-açúcar
Prédios de tijolos com suástica darão lugar à plantação de cana-de-açúcar
As construções remanescentes de uma colônia nazista que funcionou na década de 1930 na Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, a 260 km de São Paulo, serão destruídas. O novo proprietário decidiu limpar as terras para facilitar o cultivo de cana-de-açúcar. Está prevista a derrubada dos prédios das oficinas, da cocheira e da pequena igreja. A antiga piscina de alvenaria será soterrada.
Os tijolos usados nas construções trazem impressa a suástica, símbolo do nazismo de Adolf Hitler. O antigo proprietário da fazenda, José Ricardo Rosa Maciel, e sua mulher, Senhorinha, contaram que o comprador consultou os órgãos do patrimônio histórico antes de fechar o negócio para se certificar de que as construções não são tombadas.
Como a venda foi feita com cláusula de confidencialidade, eles não revelaram o nome do novo dono. "Ele vai arrendar as terras para o plantio de cana mecanizado, por isso precisa do terreno desimpedido", disse a mulher. A prefeitura de Paranapanema informou que as terras são particulares e o município não tem condições de desapropriá-las, apesar do interesse cultural.
A fazenda foi comprada no início do século passado por Luis Rocha de Miranda, simpatizante do movimento fascista Ação Integralista Brasileira (AIB). A propriedade tinha geradores de energia elétrica, pista de pouso cimentada, uma estação de trens particular e silos aéreos importados dos Estados Unidos.
Segundo o pesquisador Sidney Aguilar Filho, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a fazenda foi palco de um esquema escravista nos anos 1930. Os irmãos Rocha Miranda trouxeram 50 meninos do orfanato Romão Duarte, do Rio de Janeiro, poucos meses depois de Hitler ter tomado o poder na Alemanha, em 1933. Os garotos tiveram os nomes trocados por números e seriam obrigados a aderir a ritos nazistas.
Com o fim da AIB após a instalação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937, as crianças foram libertadas e as marcas do nazismo no local foram suprimidas. Nos anos 1960, a fazenda foi adquirida pelo alemão Amdt Von Bohlen und Halbach, servindo como local de férias para a família, mas acabou vendida anos depois. Os tijolos com a suástica foram descobertos anos mais tarde por Maciel, que adquiriu a propriedade, quando demolia uma granja de porcos.
Aguilar Filho transformou as pesquisas feitas no local na tese Educação, autoritarismo e eugenia - Exploração do trabalho e violência à infância no Brasil (1930-1945). Ele disse que será "uma calamidade" se a demolição ocorrer. "É um patrimônio público, seja ou não reconhecido pelo Estado. O que aconteceu ali é uma história inconveniente, mas que precisa ser contada." Segundo ele, a pesquisa sobre a célula nazista e a história dos meninos escravos não está completa. "Ainda há muito a ser contado sobre as relações do Estado brasileiro com o regime nazista."
Estudo. A tese de Aguilar Filho analisa aspectos da educação brasileira entre 1930 e 1945 a partir de relatos de vida de 50 meninos "órfãos ou abandonados" sob guarda do Juizado de Menores do Distrito Federal. Eles foram retirados do Educandário Romão de Mattos Duarte, da Irmandade de Misericórdia do Rio de Janeiro, e levados a uma propriedade no interior de São Paulo - a Fazenda Cruzeiro do Sul.
A transferência dessas crianças de 9 a 11 anos foi respaldada pelo Código do Menor de 1927. Por uma década, as crianças foram submetidas a uma educação baseada em longas jornadas de trabalho agrícola e pecuário sem remuneração. Foram submetidas a cárcere, castigos físicos e constrangimentos morais em fazendas de integrantes da cúpula da Ação Integralista Brasileira, simpatizantes do nazismo.
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A fazenda Cruzeiro do Sul perto de Campina do Monte Alegre, comprada no começo do século passado pelo patriarca Luis Rocha Miranda e mantida pelos filhos, simpatizantes do movimento nazista brasileiroAção Integralista Brasileira (AIB), foi palco de um esquema escravista e uma colônia assumidamentenazista nos anos 30. Os irmãos Rocha Miranda empregaram cerca de 50 meninos órfãos negros batizadas por números como escravos, trazidos do orfanato Casa da Roda de Rio de Janeiro, poucos meses depois da Machtergreifung (tomada de poder de Adolf Hitler) em 1933.
Na fazenda foram descobertos diversos edifícios construídos com tijolos com a marca da suástica nazista. Depoimentos de sobreviventes, fotografias e documentos revelaram ainda símbolos e cerimônias tipicamente nazistas empregados na época, como a obrigação de fazer o "anauê", saudação oficial entre os simpatizantes do movimento integralista.
Depois da extinção da AIB após a instauração do Estado Novo em 1937 a fazenda foi limpada pela família Rocha Miranda e as crianças soltas. No começo dos anos 60 a fazenda foi adquirida por Arndt von Bohlen und Halbach, herdeiro da dinastia industrialalemã Krupp AG e filho de Alfried Krupp von Bohlen und Halbach. Serviu como local de férias para o filho e a mãe Anneliese, mas acabou ser vendida poucos anos depois.[7][8][9]
Com a divisão dos municípios, atualmente a sede da fazenda (tem cerca de 300 alqueires paulista) fica no município de Itaí e uma boa parte da fazenda no município de Paranapanema e Itapeva. Inclusive a capela da sede que foi construída com tijolos com a suástica está na localização geográfica: 23º35'35,52" sul, 48º49'56,49" oeste e este ponto está no município de Itaí.[10]

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Dois números: Dois homens sem passado
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Sete ( à esquerda ) e o Vinte como são conhecidos   e chamados pelos amigos.
Na margem direita da rodovia Raposo Tavares, à esquerda da corrente do rio Paranapanema e a 240 quilómetros ao sul de Campinas, vive um homem negro conhecido como Vinte. Batizado Roque da Silva, tem 72 anos e sua história conta uma outra que só começou a ser revelada há dois anos e nunca foi seriamente estudada: a da ascensão e decadência de um suposto megaprojeto agropecuário de 16 mil alqueires, com inspiração nazi-fascista, que tinha uma infraestrutura composta por estrada-de-ferro, pista de pouso pavimentada com concreto, moinhos e os primeiros silos aéreos para armazenamento de grãos que o Brasil conheceu.
A megalomania dos fascistas, agrupados legalmente no país pela Aliança Integralista Brasileira, floresceu ao longo de pelo menos três municípios ribeirinhos daquela região durante os anos 30 e até os 50 e, segundo uma incipiente conclusão de um jovem pesquisador de Campinas, pretendia estender-se por todos os países do Cone Sul utilizando-se da mão de obra escrava de outros 49 órfãos negros conhecidos apenas por números e da semi-escravidão de migrantes nordestinos brancos do sertão de Caicó, no Rio Grande do Norte.
O casebre de Vinte está na barranca do rio Paranapanema, num município novo batizado como Campina do Monte Alegre, mas conhecido simplesmente por Campininha. A história de Vinte e outros cinco sobreviventes deste verdadeiro campo de concentração envolve a família Rocha Miranda, uma das mais ricas do Brasil no início da República, nome de bairro na zona Oeste do Rio de Janeiro e que hoje está reduzida a um casal de bisnetos que se recusa a acreditar nos relatos dos homens conhecidos apenas por números.
"Êles nos retiraram do Rio em 1.933 dizendo que era para chupar laranja e andar a cavalo. Chegando aqui, fomos tratados com vara de marmelo, milho crú e palmatória", lembra Vinte, de cuja vida só tem lembrança a partir de um orfanato da rua Marques de Abrantes, na então Capital Federal. Conhecido como Casa da Roda, o orfanato cedeu pelo menos 50 crianças negras ao major Oswaldo Rocha Miranda, um dos três irmãos que comandavam o projeto.
"Dizem que mamãe largou a gente na roda embrulhado em jornal. A roda virou e a gente se foi". A tal roda a que se refere Vinte, tinha uma de suas metades na rua Marquês de Abrantes, no bairro do Flamengo e outra no interior de um orfanato. Quando girava, a criança ia para as mãos de uma freira. A pessoa que a abandonou, desta forma, tinha a garantia do anonimato. E jamais a reaveria.
Pelo menos uma parte destas crianças foi usada para fazer crescer o projeto dos Rocha Miranda que, enquanto prosperou, disseminou a ideologia dos integralistas brasileiros, uma vertente do nazismo alemão ou do fascismo italiano. A suástica nazista era a marca da fazenda, estampada nas porteiras, nos tilojos e gravadas à ferro quente nas ancas do gado.
Relatos de moradores lembram de professoras fardadas nas escolas que viviam bradando o "anauê", grito de guerra dos integralistas emprestado do tupi-guarani que quer dizer "você é meu irmão".
"Com o massacre dos integralistas pelo presidente Getúlio Vargas na implantação do Estado Novo, em 1.937, teve início a decadência econômica do projeto agropecuário, mas a ideologia se manteve na colônia", analisa o professor Sidney Aguilar, que está coletando informações para transformá-las em tese acadêmica.
A propriedade era compreendida pelas fazendas Sobradinho, Cavalinho, Santa Albertina e Cruzeiro do Sul. Sua exploração teve início no fim do Império, quando Dom Pedro as doou para o brigadeiro Raphael Tobias de Aguiar, o fundador da Polícia Militar de São Paulo. Em 1.906, o brigadeiro a vendeu para Luis Rocha Miranda, um dos fundadores do Hotel Glória, no Rio de Janeiro. Ele as teria comprado apenas para caçar perdizes, segundo dizem seus herdeiros.
Com a morte do patriarca, assumiram as posses seus três filhos, Sergio, Oswaldo e Renato Rocha Miranda que as deixaram em testamento para o único herdeiro, Renato Rocha Miranda Filho. Só a partir de 1.997, com a morte de Renato Filho, a história começou a ser contada pelos moradores de Campininha, Paranapanema, Buri e Itaí, cidades envolvidas pela influência dos Miranda.
Os homens números começaram a falar e a incomodar. "Quem embarcar nesta história pode virar alvo de galhofa", adverte o comandante Maurício Rocha Miranda, de 46 anos, piloto da Varig e último herdeiro homem da família, que hoje manda em apenas 200 alqueires do império integralista caipira que desmoronou no interior de São Paulo.
***** As fotos desta página são minhas e o texto é do jornalista  João Maurício da Rosa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por mais incrivel que seja a emoção de ter/segurar um tijolo desse,ainda sim não é justo perante a história.Não sou a favor da demolição.Mas pelo visto,já é tarde...